terça-feira, agosto 14

Para uma Tipografia Colonial (10) : o núcleo Germano-Suíço na Pensilvania

The manuscript folk art produced by the Pennsylvania Germans is called Fraktur, a name inspired by the broken character of the lettering. Documents of many kinds were gaily decorated with tulips, hearts, stars, crowns, angels, unicorns, eagles, and other figures like many books and broadsides produced by early German printers in America.
A primeira typeface utilizada na América Colonial Inglesa, atual estados Unidos da America do Norte, foi uma escrita fraktur. Cristopher Saur, foi, de fato, o primeiro impressor em solo norte-americano. E seu primeiro impresso, um panfleto, usou esta tipografia, que ele identificava como “Sabon” (1), e que foi desenhada por um tipógrafo anônimo na Alemanha, na Luthersche typefoundry em Frankfurt.

Poderíamos, em liberdade poética, chamar esta misteriosa typeface de "Ephrata Cloister", em homenagem a primeira tipografia e comunidade de impressores da América, quase todos monges, e que hoje tem 275 anos de história.

veja abaixo amostras do tipo "Sabon" utilizado por Saur e logo depois por Johann Peter Miller



Anos depois, num gigantesco esforço, Johann Peter Miller, um renascentista na antiga Pensilvânia, reuniu este grupo de monges e juntos imprimiram o primeiro grande-livro em solo americano, o gigantesco Märtyrer Spiegel (the Martyrs' Mirror).

Ephrata Cloister, ontem e hoje. SAIBA MAIS.
Peter Miller traduziu o texto original diretamente do holandês para o alemão, pois era a língua mais utilizada pelos menonitas pensilvanos de então, numa obra de 1500 paginas, impressa em uma tiragem 1300 exemplares, sendo estes números grandiosos até para os nossos dias atuais, em se tratando de tipografia móvel. Neste belo livro, a “Sabon” ou ”Ephrata Cloister” para mim, é novamente utilizada, desta vez agregando-se um sem numero extravagante e belo de outras typefaces góticas, ornamentais, versais, caixas alta e baixa, num verdadeiro tour-de-force, provavelmente também adquiridas em Frankfurt, já que faltavam ainda três décadas para que os tipógrafos norte-americanos produzissem e fundissem suas primeiras typefaces. Assim, este e outros livros do período utilizaram tipos alemães. No entanto, experiencias com woodtypes começaram, obviamente, antes do periodo das fundições, sendo o proprio Saur um pioneiro, como nos informa o site de John Bryer, que traz muita informação sobre Saur:

"He printed the first bible in European language (German) in 1743; 40 years before first English bible was printed in America. Cast his own type, made ink and paper, printed and bound the bibles."

Algumas destas informações já me eram conhecidas, outras estão sendo agregadas ao nosso know-how através de um novo e importante amigo, Lee Jay Stoltzfus, livreiro e antiquário americano, filho do condado de Lancaster, no coração da histórica Pensilvania Amish, Menonita e Quaker, onde surgiu a imprensa americana colonial pré-revolucionaria.

O núcleo de colonização deste lugar teve grande afluência de populações sueco-alemãs; Jay traçou sua arvore genealógica até seus primeiros antepassados emigrados de Berna e Zweibrucken, nos 1700s. Seus pais, em infância, eram Amish, tendo se afastado, todavia, da comunidade na adolescencia, o que não diminuiu o amor de Jay por suas tradições ancestrais.

Naquele lugar é fácil entender o uso continuado até os dias atuais da escrita fraktur e das línguas germanas, uso este que tem se mantido, por exemplo, numa tradição de artesanato em tecido, pelas mulheres, que remonta a mais de três séculos usando letras fraktur artesanais como decoração.

Jay é bibliófilo, amante da cultura fraktur e do estudo da imprensa colonial norte americana. Seus sites tratam diretamente deste assunto, compilando e resgatando a história da quase totalidade dos primeiros impressores coloniais americanos, incluindo por exemplo, Benjamin Franklin, que tinha participação societária em uma casa tipográfica, tendo sido, inclusive, competidor no mercado frente à imprensa do “Ephrata Cloister”


Lee Jay Stoltzfus


Jay mantém, assim, o The Black Art, A History of Printing in Lancaster County, e participa ativamente do Pensilvânia German Arts and Antiques juntamente com o historiador Clark Hess, além de um blog sobre livros raros – para não falar, é claro, de seu espaço na EbayStore onde vende livros raros

Clark Hess


acima, imagens do blog de Hess, mostrando aspectos das comunidades pensilvanas


acima, as prensas de Franklin e de Bauman (Ephrata Press Cloister)

Sabemos hoje, que a imprensa colonial norte-americana foi importante motora da independencia norte-americana, gerando e distribuindo informações entre os primeiros núcleos emancipadores, que lutavam pela contra os abusos ingleses. Podemos dizer, enfim, que a imprensa teve papel decisivo na independência norte-americana, como de resto em todos os futuros movimentos libertários que passaram então a ocorrer, tendo como exemplos a Revolução Francesa e a Americana.

Com tudo isto em mente, estamos gratificados em receber estas belas palavras de nosso correspondente e, mais ainda, de sermos convidados por ele e indiretamente por sua comunidade a digitalizar aquela que foi A PRIMEIRA TYPEFACE DA AMERICA COLONIAL:

Hello from the U.S.,
I write to congratulate you on your excellent fonts. I very much enjoy seeing your blackletter fraktur fonts, especially the Hostetler fonts. Here in Pennsylvania, the Amish and Mennonite communities read backletter/fraktur fonts every day. My parents were Amish until they were teenagers, so I am very much interested in fraktur typography. Here in the U.S., Hostetler is a very important Amish name. The most famous Amish historian is John A. Hostetler. Most of the Amish in the U.S. came here to Pennsylvania from Switzerland and Germany. My family came here to the U.S. from Bern and Zweibrucken, etc in the 1700s. I am very much interested in typography and letterpress printing, because I also am a seller of antiquarian books. I have a website about the printing history of the Amish, Mennonites, and other people here in Lancaster County, Pennsylvania and also write a site for Clarke Hess.

Did you know that the first font of the first American type specimen is fraktur / blackletter? I have information about that first American type specimen on my website. Someday someone should digitize this font, because it is one of the most important American fonts. It is not yet digitized. If you ever need a new font project, this would be an excellent project, and would be an important contribution to American typography history.

Best wishes,

Lee Jay S.

Nossos estudos - difíceis, lentos, mas constantes sobre tipografia colonial e tipografia barroca,- têm se mantido ao longo deste primeiros anos de pesquisa tipográfica. E agora entraremos numa nova etapa, de produção dos primeiros resultados. Lançaremos futuros posts comentando o trabalho de preservação e pesquisa nas comunidades da Pensilvania. Aproveite e consulte outros posts sobre tipografia colonial e barroca saídos no Marginalia:

Pequeno ensaio sobre tipografia barroca

O Padre Antonio Vieira

Tipografia Colonial em El Salvador

Dicionário de Tipógrafas ,

Dicionário de Tipógrafos

Dovtrina Christam Concani

Para uma tipografia Colonial2

John Baine, Dicionário de Tipógrafos

Para uma tipografia Colonial2

em produção: Lydia Bailey, a mais bem sucedida tipógrafa da América, no século XIX
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escrita gótica, escritas antigas

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(1) No entanto, a memória tipográfica ocidental costuma identificar os trabalhos de Sabon como romanos.

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